Um terceiro quadro estabelecido é o da ação educativa da Igreja junto dos povos, já que, no uso de uma tradição milenária, ela se arroga, como mãe e mestra, o direito de conduzir a educação de todas as gentes. Eis, na terra inculta, as primeiras escolas das mães cristãs, dos tios-padres, dos padres-capelães - que chamaremos "escolas domésticas" - escolas dos poucos meninos do tempo que aprenderam as primeiras letras, à barra da saia de suas mães sertanejas; eis o Seminário de Mariana, o primeiro fanal da cultura mineira, a formar as primeiras elites, que se completarão na Universidade de Coimbra; eis os Recolhimentos de Macaúbas e do Vale das Lágrimas, as primeiras instituições monásticas da terra, que serão igualmente as primeiras escolas de formação da mulher mineira.
Entretanto, a verdadeira fisionomia do século XVIII que se delineia é a do Iluminismo. Movimento cultural cíclico, nascido na Inglaterra, aclimado e consolidado em França, que empolga toda a Europa, e irá ter em Portugal a sua primeira experiência no campo político-administrativo. O seu instrumento mais eficaz de ação será a educação e, em Portugal e no Brasil, o Marquês de Pombal abrirá as primeiras experiências pedagógicas do Iluminismo, constantes, após a expulsão da Companhia de Jesus, das reformas do ensino das primeiras letras, das artes e da própria Universidade de Coimbra; das escolas régias, no Reino e no Brasil, onde as de Minas Gerais nos merecerão uma consideração especial, assim como seus pedagogos e seus discípulos mais destacados, principalmente os que partirão para Coimbra; esses alunos das escolas régias, que se formarem na Universidade de Coimbra e regressarem para a terra natal, constituirão motivo de um estudo próprio.
Mas, nos últimos decênios setecentistas, abate-se com toda a violência sobre a Capitania de Minas Gerais a crise econômica do ouro em descenso. Os povos, oprimidos e esmagados, gemem, de um lado, sob o arrocho do despotismo fiscal, e de outro lado, sob os arreganhos da miséria geral. Há, apenas, os cochichos dos inconformados e, alguém, mais desgraçado que todos, vai levá-los ao Governador da Capitania, que suspende a "derrama", prende os descontentes, remete-os para o Rio de Janeiro, avisando ao Vice-rei para que também prenda o mais atrevido deles, o Tiradentes. É a Inconfidência Mineira. O calabouço, o exílio, o sequestro, a infamação e o patíbulo - patíbulo ignominioso de forca - têm o condão de fazer com