– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

vimos - ofereceria excelente matéria-prima para a feitura dos afamados chapéus de São João del Rei. O artesanato mineiro faz figura humilde no quadro das exportações: aquelas toalhas com guardanapos intrigam o estudioso e, como são exportadas pelo Registro do Presídio do Rio Preto, fazem aventar a hipótese de ser trabalho de fiandeiros de trabalhos forçados, o que é mesmo de admirar na história penitenciária do Brasil, si è vero... Assim também os "xicotes", que provêm do mesmo destino: deveria ser genialmente fértil a imaginação do comandante do presídio, enchendo os dias dos seus pensionistas com trabalhos de rendas e com exemplares daquela "especie de azorrague de cordas de viola enroscadas com uma cordinha no cabo", que é assim que o dicionarista D. Rafael Bluteau descreve o chicote, "palavra nova que os ingleses e franceses introduziram nos últimos anos em Portugal",(174) Nota do Autor A abundância da produção de selas, solas e couros de boi ou de veado - indício de numerosas selarias - não seria completa se faltassem os estribos, aqueles vistosos estribos, que a gente vê nos cavaleiros mineiros das gravuras de João Maurício Rugendas, de metal (prata, cobre ou bronze) ou de madeira, quando andariam aparentados com as cangalhas e as gamelas, cujos artífices talvez fossem os mesmos. As facas denunciam as forjas caseiras de ferro, tão comuns em Minas, nos dias de Eschwege, com a sua natural cutelaria rústica de facas, foices e até "maxados". Agora, as indústrias de exportação, meio urbanas, meio rurais, já que o povoado mineiro participa de uma e outra natureza. Doceiro por excelência, o mineiro haveria de incluir a sua marmelada como produto de exportação, resultado que é ela do bom marmelo europeu, muito bem transplantado na terra e da rapadura de engenho, que toda propriedade agrícola que se preza honra-se em fabricar. Já que falamos em engenho, acrescentemos-lhe o alambique, que destila a boa pinga da cana; como, além da tração animal, é quase sempre tocado a água, fica-lhe perto o primo moinho - o "munho" do linguajar luso-mineiro - para moer o milho e o pouco trigo existente, dando as farinhas e os fubás - a trigueira farinha de trigo e os beijus da farinha de milho, esta feita do fubá, fubá apurado na peneira: quando simples, é o fubá comum, "de munho", e quando fruto da canjica, o "fubá mimoso", o "fubá de canjica", especial para os quitutes melhores, que já vêm dos bandeirantes; e há ainda,

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