O futuro Inconfidente Cláudio Manuel da Costa, entre tantos outros, pedirá a mercê do hábito da Ordem de Cristo e uma tença.(21) Nota do Autor
Vai-se distanciando essa "nova classe" da miuçalha sem nome dos tempos primitivos, a qual, chegando na miséria, continua pelos anos avolumando os simples catadores de ouro, os humildes artesãos (ferreiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros, barbeiros, seleiros, pedreiros, pintores, tanoeiros, etc.), quando não se torna agenciadores, vendeiros de beira de estrada, trabalhadores livres de variada sorte - feitores, agregados, prepostos, homens de soldada, caixeiros, carregadores, colonos, foreiros - inclusive os homens livres de cor em geral, mas sem condição econômica de elevar-se à classe melhor. A todos esses elementos, poderá ser atribuída a condição do que chamaríamos a classe média das Minas do ouro - os apelidados pejorativamente de "pés-rapados", "pés-descalços", a plebe, enfim. No decorrer do tempo, lentamente, essa classe média se irá acrescentando de elementos mais aquinhoados, elevando-se.
E, finalmente, os escravos. Nem constituem, coitados, uma classe. Não são gente, são coisa, traste, cria, não passam de "bens de produção". São semoventes.
O indicativo, pois, dos senhores é o seu patrimônio, da lavra, da fazenda, do curral de gado e, também, da casa comercial, desde que, sendo a civilização mineira predominantemente citadina, o comerciante bem estabelecido passará naturalmente a fazer parte da classe dominante. Mas, o patrimônio representa a estabilidade, a permanência das coisas tidas e possuídas, o imóvel, a propriedade fundiária. Assim, pois, a partir de 1710, o homem mineiro começa a fixar-se na terra, na sua propriedade, na sua casa. Ora, a casa, o "fogo", o lar - tudo isso significa a mulher. Após várias décadas de loucura coletiva, em que a procura do ouro é a única atividade a que se dá, o aventureiro detêm-se por um momento de siso recatado, coadjuvado agora pelas promessas de uma vida melhor, graças à prosperidade geral, e passa a satisfazer à instintiva necessidade humana do amor da mulher e dos filhos e da segurança doméstica. Há, pois, uma evolução do primitivo nomadismo e da bruteza da vida dos anos pregressos para a estabilidade e a ordem, individual e social. Pela primeira vez, como que desanuviado dos fluidos da embriaguez que o possuíra, o homem