– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

apogeu da produção aurífera, o elemento mais numeroso da Capitania. Ele irá ganhar ainda maior força, depois de 1740, quando aumentarem bastante as concessões de sesmarias, até 1760, nesses lendários tempos do Governador Gomes Freire de Andrade, o munificente distribuidor de imensos tratos de terra a quem lhos pedir. A posse da terra, da fábrica aurífera ou do bom estabelecimento comercial passará logo a significar, nas Minas, a condição do senhor, do nobre, do "homem bom". O mesmo Conde de Bobadela, em sua conspícua Instrucção e Norma, que escreve a seu irmão, José Antônio Freire de Andrade, quando este o vai substituir no governo da Capitania, em 1752, indica logo o toque do nobre mineiro: ser vereador, ser do "servisso da republica do nobre Senado da Camara". Referindo-se a eles, diz: "As pessoas, que servem nas Camaras de Minas, são de gerarchias, a que os sobe, ou abaixa o seu cabedal".(18) Nota do Autor Aí está. A jerarquia estará na razão direta da riqueza do mineiro e, pois, da sua própria condição no Senado da Câmara de sua vila. Essa gente torna-se tão arrogante, que pode pôr em xeque o próprio Governador: "cada um que nas Minas tem dinheiro, se o quer prodigalisar" - adverte o Conde de Bobadela a seu irmão - "acha na corte (d'onde vindes) mil protectores, e, por porem em mais obrigação e dependencia aos seus protegidos, não duvidam manchar com imposturas a honra do governador".(19) Nota do Autor Há como que um resíduo romano do pater-familias nesse recém-grão-senhor mineiro, todo ancho de suas regalias e do seu poder econômico, dando-se logo o luxo de rodear-se de sua clientela (os clientes antigos), que protege zelosamente, o que é, aliás, demonstração do prestígio que gosta de exibir mesmo às barbas dos governadores, como confessa, a contragosto, o próprio Bobadela. Eis, pois, que se firma, pouco a pouco, nas Minas, uma nobreza do dinheiro, essa nobreza dos nouveaux-riches do Triunfo Eucarístico - este, aliás, símbolo fiel dela - que se vai estabelecendo nas vilas, especialmente na Capital, essa opulenta Vila Rica, "pérola das Américas", onde "habitão os homens de maior commercio, cujo trafego e importancia excede em comparação o maior dos maiores homens de Portugal",(20) Nota do Autor como eles próprios se proclamam, aliás sem nenhuma falsa modéstia. Quando a produção do ouro chegar ao seu fastígio, todo o mineiro que fizer fundir mais de oito arrobas, poderá pedir a El-rei uma mercê.

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