o conde dos Arcos. É representativo de uma filosofia prática (o economismo dos enciclopedistas), de uma política forte (o absolutismo patriarcal e "iluminado"), de um patriotismo reacionário, de um romântico sentimento de honra, de uma austera concepção da justiça, do poder e da glória, que formam o ambiente emocional da corte de D. José e Pombal, do início do reinado devoto e conciliador de D. Maria I. Mas as velhas qualidades da nobreza da Restauração - cujos escudos d'armas el-rei D. João IV mandou pintar, ao jeito de apoteose, no teto apainelado da sala dos Veados do castelo de Cintra - lhe sobrelevavam à sutileza e à finura de estadista que lera Rousseau, Quesney e Voltaire. A sua correspondência revela-o nesse duplo aspecto: de homem de seu tempo e de general da linhagem antiga dos leais cavaleiros das viagens e conquistas em África, Etiópia e Índia. Não tem diferente linguagem nos seus relatórios saborosos de pitoresco e senso descritivo, impregnado - dir-se-ia - do espírito clássico de D. João de Castro e de “Albuquerque o Terribil”, se comprazia em combinar as suas noções atávicas de fidelidade à coroa, de pundonor e honestidade, com as inspirações racionalistas do século do epigrama, do lirismo rural e da dúvida elegante. Não transigiu - como um capitão de outrora - com as incursões de estrangeiro no território que era de Portugal, com o desânimo e a deserção dos fracos comandantes, com os revezes - largamente explicados - de 1777. Pediu licença para ir ao sul, assumir a chefia das tropas em Santa Catarina ou no Rio Grande. Não lha deram; e a isto atribuiu a fácil ocupação da ilha por D. Pedro de Ceballos. Queria estar simultaneamente no Rio de Janeiro, sede do governo, e no campo de batalha; erguendo baluartes ou rasgando ruas na cidade nova (a ilustre "rua do Lavradio" é uma reminiscência do seu urbanismo) e cruzando o ferro com o inimigo na