Também os índios brasileiros conheciam a tecelagem. Demonstra-o a referência de Caminha. De resto, ainda hoje os catequistas coletam nas selvas, e expõem nas cidades, redes que são verdadeiras maravilhas de arte, entretecidas por índios que, não tendo tido contatos anteriores com civilizados, só podem ter aprendido com seus maiores. A própria indústria de redes, tão desenvolvida no Norte e no Nordeste, não apresenta características que denunciem procedência europeia; ao contrário, é tipicamente indígena. Jean de Léry descreve a indústria da fiação e tecelagem dos tupinambás:
"Depois de tirarem os casulos, em que se cria o capucho, o estendem com os dedos sem, aliás, o cardar, como acima disse, ao descrever a planta produtora do algodão, e reúnem em pequenos montes junto de si, no chão ou sobre qualquer objeto; e como não usam rocas, como as mulheres europeias, seu fuso consiste em um pau redondo, da grossura de um dedo e do comprimento de quase um pé, com trincho de madeira da mesma grossura, nele atravessado; prendem o algodão na parte mais comprida do dito pau e, depois, rodando-o nas coxas e soltando-o da mão, como fazem as fiandeiras com as maçarocas, volteando assim esse rolo com uma grande carrapeta no meio da casa ou em qualquer outro lugar, formam não só fios para fazer redes, mas, também, delgadíssimos e bem torcidos."
Como ainda hoje, em grande extensão do território nacional. Gandavo e Cardim fazem igualmente referências a essa indústria, que os europeus aqui encontraram. "Os tupis litorâneos — diz Estêvão Pinto em Os Indígenas do Nordeste — desconhecem a tecelagem, embora esta já tivesse dado os seus primeiros passos, como prova a manufatura: 1º de "fitas com passamanes", algumas tão largas que serviam para enastrar os cabelos; 2º de ligas com fios de algodão, de tal modo tecidas e unidas que pareciam "uma só peça"; 3º de charpas de carregar as crianças; 4º de redes. "Para fabricar os leitos de algodão, que os selvagens chamam "inis", as mulheres têm teares de madeira, os quais não são horizontais, como os dos nossos tecelões, nem têm tantos maquinismos, mas são perpendiculares e levantados até a altura delas. Depois de urdirem a seu modo, começam a tecer as redes pela parte inferior do tear; umas são a maneira de renda ou de redes de pesca, e outras de teçume apertado, como brim grosso. Estas redes são pela maior parte do comprimento de quatro, cinco ou seis pés, e da largura de uma braça mais ou menos; têm duas argolas ou dois punhos também feitos de algodão, nos quais os selvagens atam cordas para amarrá-las e suspendê-las no ar em paus fronteiros expressamente enfincados para isso em suas casas." Foi o uso do algodão, aliás, que deu a esses índios tão notável desenvolvimento à plumária.
Antes do descobrimento, a indústria da tecelagem exercitava-se aqui com o auxílio de três tipos de teares: o ucaiali, o aruaque e o peruviano. Para a fiação, o fuso de bojo, o tipo bororo, o quíchua e o bacairi. Mais algumas informações de Estêvão Pinto: "Parece