História geral da agricultura brasileira v.2

que a tecelagem não era conhecida entre algumas tribos jês (os tapuias do Nordeste, d. e.). Ao contrário, porém, dos tupis, vamos encontrá-los já de posse da rede, em oposição ao que afirma Morisot, em nota à Relation du voyage de Rouloux Baro. E Herckmans observa que os tapuias acendiam fogueiras e ao longo delas, estendiam suas redes: os anciãos eram transportados também nesses utensílios. Knivet surpreendeu os guaianás carregando provisões em filets. E Gabriel Soares de Sousa, referindo-se aos tapuias do interior da Bahia, observa que esses silvícolas andavam com os cabelos "enastrados com fitas do fio de algodão"; as mulheres, demais, cingiam-se com franjas do mesmo vegetal, cujos cadilhos eram tão longos que bastavam para "cobrirem suas vergonhas". A fiação, todavia, era a mais rudimentar possível, pois não conheciam os tapuias o fuso, com exceção de um ou outro grupo (os camacãs, v. g.).

* * *

Evidentemente, não eram só os três citados os gêneros Gossypium existentes; nem o barbadense é o único brasileiro. Todaro e George Watt (Wild and Cultivated Cottons of the World) fazem a classificação completa, dizendo o último que "A influência seletiva do homem tem modificado tanto e confundido as formas úteis do algodão, que é hoje um assunto de grande dificuldade distinguir certas espécies umas das outras." No Brasil, diz Edward C. Green, na Classificação Botânica dos Algodoeiros Brasileiros, a dificuldade aumenta devido à hibridação natural das espécies, acrescentando que as malváceas, a cuja ordem natural pertence o gênero Gossypium, são essencialmente tropicais, e mais numerosas nos trópicos do Novo Mundo do que nos do Velho. O Gossypium arboreum e o Gossypium herbaceum são asiáticos ou africanos. O primeiro não se aclimatou bem no Novo Mundo. Todavia, o Gossypium arboreum var. neglecta, forma dele derivada, foi muito cedo introduzido na América e nas Antilhas, sendo hoje conhecido nos Estados Unidos com o nome de "Algodão Okra". O Gossypium herbaceum, o levantino, da Ásia, chegou à Virgínia (Estados Unidos), em 1621 e desapareceu há mais de sessenta anos, por efeito de hibridação com as variedades nativas. Green admite tenha ele vindo para o Brasil procedendo da América do Norte ou da Ásia, embora seja hoje difícil classificar nessa espécie muitas plantas. Não é tropical, mas de climas frios.

"Talvez nenhum produto brasileiro seja mais descurado que o algodão — escreve Coelho de Sousa. Durante a plantação, o lavrador mantém na mais profusa mistura diversas espécies; o algodão é plantado a lanço no terreno; não se faz o desbaste; além disso, as várias culturas mantidas juntamente com ele, no mesmo solo, roubam-lhe o parco alimento que este poderia fornecer-lhe; as capinas são descuradas e finalmente na colheita a falta de seleção, de conhecimentos e de cuidados do lavrador é extraordinária; são apanhados capulhos maduros e verdes; doentios e velhos; ao algodão

História geral da agricultura brasileira v.2  - Página 13 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra