História geral da agricultura brasileira v.2

da Câmara é autor de uma Memória sobre a cultura dos algodoeiros e sobre o método de escolher e ensacar o algodão, datada de 1799.

De Candolle diz a mesma coisa, na L'Origine des plantes cultivées, conforme já se referiu. Os indígenas usavam-nos em tecidos para certas peças do reduzido indumento, para a cinta de castidade obrigatória às donzelas de algumas tribos, e para as tochas incendiárias, expedidas em pontas de flechas aos acampamentos inimigos. Nóbrega refere-o abundante, em uma de suas famosas cartas, dizendo "que se encontra em umas árvores frescas como sabugueiros e todos os anos dão uns folhelhos ou capuchos cheios de algodão". Thevet refere-se também ao algodão e aponta-lhe uma outra utilidade: a fabricação das redes ini. Jean de Léry refere as redes de dormir, também de algodão. Fazendo a apologia das terras brasílicas, o já referido Gabriel Soares de Sousa escreve que "dão-se nela muitas carnes assim naturais dela, como das de Portugal, e maravilhosos pescados; onde se dão melhores algodões que em outra parte sabida; e muitos açúcares tão bons como na ilha da Madeira". Descrevendo o trecho entre o estreito de Mataripe e a ponta de Marapé, na Bahia, o autor do Tratado Descritivo do Brasil em 1587 diz que, passando-se a boca do estreito de Parnamirim, "andando sobre a mão direita daí a uma légua, está tudo povoado de moradores, onde tem muito boas fazendas de canaviais e algodões, a qual terra se chama Tamarari, no meio da qual está uma igreja de Nossa Senhora, que é freguesia deste limite". Faz mesmo uma descrição do "modo com que se cria o algodão, e de sua virtude, e de outras ervas que fazem árvore". Acompanhemo-lo:

"Maniim chamam os índios ao algodão, cujas árvores parecem marmeleiros arruados em pomares, mas, a madeira dele é como de sabugueiro, mole e oca por dentro; a folha parece de parreira, com o pé comprido vermelho, com o sumo da qual se curam feridas espremidos nelas. A flor do algodão é uma campainha amarela muito formosa, donde nasce um capulho, que ao longe parece uma noz verde, o qual se fecha com três folhas grossas e duras; da feição das com que se fecham os botões das rosas; e como o algodão está de vez, que é de agosto em diante, abrem-se estas folhas, com que se fecham estes capulhos, e vão-se secando e mostrando o algodão que tem dentro muito alvo, e se não o apanham logo, cai no chão; e em cada capulho destas estão quatro de algodão, cada um do tamanho de um capulho de seda; e cada capulho destes tem dentro um caroço preto, com quatro ordens de carocinhos pretos, e cada carocinho é do tamanho e da feição dos ratos, que é a semente donde o algodão nasce, o qual no mesmo ano que se semeia dá a novidade. Estes caroços do algodão come o gentio pisados e depois cozidos, que se faz em papas que chamam mingau.

As árvores destes algodoeiros duram sete a oito anos e mais, quebrando-se cada ano as pontas grandes à mão, porque se secam; para que lancem outros filhos novos, em que tomam mais novidade;

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