Um jornalista do Império

Esta biografia do jornalista não è escrita dentro dos padrões clássicos. Apresenta falha evidente, É feita à base de cartas recebidas pelo biografado e não das que por ele eram escritas, pois delas não guardava cópia. E precisamente neste defeito é que está o mérito que o livro possa ter. A rigor será, então, um documentário. Mas um documentário profundamente humano, mostrando as virtudes e não escondendo os pecados, onde os personagens, para comporem o quadro histórico, entram em cena abruptamente, sem apresentação, e põem-se a falar como se estivessem pensando alto. São, afinal, cartas dirigidas a Firmino, e dele também tratam. Tratam em pinceladas que apenas sugerem, ao modo dos impressionistas. Os traços assim esboçados servem, no conjunto geral, para dar o contorno de seu feitio.

Cartas há que não se ousou mutilar para delas transcreverem-se apenas os trechos interessantes e apropriados. Assim, por exemplo, são as de Justiniano José da Rocha. Porque nelas tudo é interessante e tudo é apropriado. Coloridas, vivíssimas, tratando de tudo, mas sobretudo de política, não poderiam ter períodos suprimidos. Seria como cortar de quadro fino um pedaço da tela, prejudicando a harmonia da composição do artista, apenas para obrigá-lo a entrar na moldura.

De Firmino não existem esses documentos pessoais, íntimos, e que tanto espelham a personalidade de cada um. Há, todavia, seus escritos na imprensa, na qual foi, no dizer de Joaquim Manuel de Macedo, "cratera de vulcão aberta a despedir lavas estupendas". E como o trabalho tem em vista, principalmente, mostrar o jornalista que ele foi e a imprensa tal como era, seus artigos e os dos adversários políticos, combinados com a correspondência dos amigos, bastam para indicar o lugar que ocupou na paisagem humana de seu tempo e de seu meio.

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