ENTRE NAPOLEÃO E A MIRAGEM SUL-AMERICANA
1 - O tratado de Tilsit e a ameaça contra a Inglaterra
Há de parecer estranho que a história no seu ilogismo desconcertante, tenha feito ocorrer o fato, que iria precipitar a formação brasileira, no interior de uma balsa, transformada em barraca de campanha, amarrada a uma das margens do Memel, nas planuras da Prússia Oriental.
A época foi o verão de 1807, quando Bonaparte, no auge da sua ofuscante carreira militar, traçava, sobre o seu mapa de operações, as novas fronteiras da Europa. O mundo, indeciso entre a rejeição da ordem antiga e a aceitação dos princípios democráticos, vivia, então, a sua fase mais tumultuosa e fascinante. A batalha de Friedland mal havia sido travada e, ante a derrota espetacular dos seus exércitos, o Czar Alexandre, arriando dos mastros as águias moscovitas, apressara-se a entrar em entendimento com o Corso, o inimigo da véspera.
"A diplomacia russa sempre gozara de uma reputação, pouco invejável, de duplicidade"(1) Nota do Autor mas o que estava ocorrendo, naquele momento, constituía um fato inédito, um exemplo sem precedente, na agitada crônica das traições moscovitas: um pacto concertado sobre os destroços de uma batalha, visando à destruição do aliado