George Canning e o Brasil 1º v.

desmantelara definitivamente todo o sistema político, criado e modelado por Frederico, o Grande.

Canning não ignorava a extensão e a complexidade dos problemas que, logo em seguida à sua posse, teria de enfrentar. A gravidade da situação, entretanto, não o atemorizava a ponto de julgá-la perdida, pois era sua convicção que outras soluções ainda existiam, aguardando a iniciativa de um ministro empreendedor e audaz, que a essas qualidades, aliasse astúcia e visão política para fazer frente, em todos os terrenos, ao gênio desconcertante de Bonaparte. No desenvolvimento da ação a ser desencadeada — e que deveria ser impiedosa e travada tanto no mar, como na terra — a Inglaterra teria de procurar valorizar, ao máximo, os elementos de agressão inerentes à sua posição geográfica. Esses elementos, na opinião de Canning, seriam os seguintes: sua colocação fora e, ao mesmo tempo, muito próxima do continente europeu, sua esquadra poderosa, que representava uma ligação viva com as colônias e com o resto do mundo e a capacidade de mobilização das suas forças que, transportadas pelo mar, poderiam atacar simultaneamente em diversas frentes, provocando, pelo calculado ilogismo dos golpes, o cansaço e a desorientação do inimigo. Além disso, essa política de reação contra o poder crescente de Napoleão, não poderia deixar de ter em vista, por um momento sequer, a necessidade de, a todo custo, manter em funcionamento o complexo sistema de comércio, através do qual se processava a integral respiração do Império.

Para a realização dessa larga, ambiciosa e audaz diplomacia, Canning dispunha de um fator da mais alta relevância e que se revelaria decisivo em muitas situações embaraçosas que teve de enfrentar em sua carreira de homem público: o domínio absoluto da razão no planejamento

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