"Senhor encarregado, cônsul-geral
Meu mui venerado Senhor
A situação em que eu me acho, depois de ter sacrificado desinteressadamente no Brasil, minha Pátria adotiva, e pela causa que agora triunfa(55) Nota do Autor, empregos, carreira diplomática, bens raízes e da fortuna, família e filhos, é tal que até me faz rubor o apontá-la. Sem roupa decente, sem sapatos, sem casa, sem pão que comer, este é o triste quadro da minha posição do dia.
Senhor encarregado, eu tenho no Brasil bens territoriais, créditos ingentes e líquidos contra o governo e mil coisas que reivindicar. Sei que o senhor está disposto a facilitar-me os meios para que eu possa regressar ao Rio: dou-lhe mil graças; que lhe asseguro que, apenas chegado, pagarei aquela quantia à pessoa que me for indicada; mas no entretanto que estou a sair, como faço para subsistir? Peço, pois, ao senhor, um socorro suficiente para fazer-me uma muda de vestido, e poder sustentar-me neste curto tempo.
Com cinquenta pesos tenho suficiente para cobrir-me de modo bastante decente, e para manter-me uns 15 ou 20 dias.
Espero que o senhor encarregado consolará a Sentinela da liberdade da Praia Grande, vítima do próprio patriotismo, que sofre sem cessar, depois de 12 de novembro de 1823(56) Nota do Autor.
No entanto fico cheio do maior respeito
O seu mais rendido servidor
José Estêvão Grondona"(57) Nota do Autor.
Em 1833, falecendo Antônio Gonçalves da Cruz em Chuquisaca, a atual Sucre, coube ao mesmo Grondona comunicá-lo em carta ao então ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, conforme veremos em próximo capítulo.
VI - MORTE DO "CABUGÁ"
Em quinto capítulo sobre Antônio Gonçalves da Cruz, alcunhado o Cabugá, encontramos o antigo agente externo dos revolucionários pernambucanos de 1817 transformado, em 1831, em primeiro encarregado de negócios e cônsul-geral do Império do Brasil na República da Bolívia.
Nesse posto veio a falecer, no início de 1833, na cidade de Chuquisaca, hoje Sucre, conforme carta que a 18 de março desse ano, de Santa Ana de Chiquitos dirigiu ao nosso ministro