Fisionomia e espírito do mamulengo

que me ofereceu o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.

O Instituto se interessa pelo homem em suas relações de meio, causas e efeitos. O homem de uma determinada região: do Nordeste. E mais especialmente de um Estado do Nordeste: Pernambuco. Esta forma de teatro popular - o mamulengo - é uma das mais autênticas manifestações artísticas do homem desta região. Daí a pesquisa, que resulta menos numa coleta de dados do que numa fixação e numa posição do espírito dramático da comunidade. De um lado, os artistas populares; do outro, o público das comunas rural e citadina. É espantoso o dom desses artistas populares, com suas invenções, sua voz, sua habilidade manual, sua personalidade artístico-artesanal, seu analfabetismo de letras, seu cancioneiro, sua miséria, sua ingenuidade, sua obscenidade, sua inconsciência, seu orgulho: sua condição humana; é espantosa a participação do público de pés descalços, faminto, risonho, crédulo. Quando a figura surge no alto da empanada, opera uma transformação no ambiente. Encarna o valente, o ridículo, o apaixonado, o covarde, encarna sentimentos ou paixões e os espectadores - olhos brilhantes, burladores ou odiosos, bocas torcidas no riso ou na raiva, caras fechadas ou abertas - passam a considerá-la "viva" e dialogam com ela.

"...Enquanto

aguardo diante do palco dos títeres, - não

quando me transformar inteiramente num intenso

olhar, um Anjo surgirá para refazer

o equilíbrio, como o ator que anima os títeres.

Anjo e boneco: haverá por fim espetáculo.

Congrega-se então o que, sem cessar,

nossa existência mesma desagrega. E nasce

das nossas estações o ciclo da transformação

total. Muito acima de nós, o Anjo brincará"(1) Nota do Autor.

A pesquisa que apresento foi dividida em três partes, para um conhecimento total do espírito do boneco. A primeira trata do conhecimento histórico da marionete, desde que o

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