O problema nacional brasileiro: introdução a um programa de organização nacional

Grande número das concepções ligadas aos nossos sentimentos gerais são metafóricas, hiperbólicas, muitas vezes. A língua é um serviçal, mas, também, um traidor do espírito e do coração; e as formas exageradas de expressão dos impulsos morais defraudam sentimentos verdadeiros, que se tornam figuras acanhadas e constrangidas, nas roupas de suas imagens retóricas.

O coração tem as suas proporções e a alma a sua harmonia arquitetônica.

Sob os vagos nomes dados, declamatoriamente, às nossas afeições sociais, como o de fraternidade humana, patriotismo universal, pátria ideal, família humana, ou brasileira — metáforas que são quase delírios de linguagem — pomos, de costume, a simpatia, o impulso de mútuo auxílio, a benevolência, a nobre e pura caridade, dos católicos, o altruísmo, eloquente nome da síntese da virtude de Augusto Comte: viver para outrem, o espírito de humanidade que nos unem, enfim, ao nosso semelhante — chinês ou kaffir, da Terra Nova ou patagão — acima da amizade que nos prende ao companheiro e consócio na vida e no trabalho, e de todos os sentimentos reais, domésticos, pátrios e sociais que nos ligam ao irmão no sangue, ao compatrício descendente dos mesmos avós,

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