Dos tempos coloniais até hoje, a direção e a organização da nossa vida econômica têm obedecido ao único intuito de canalizar os produtos para as mãos do comércio, de facilitar e robustecer o comércio, de abrir meios novos de expansão e de influência comercial, no interior. Habituados a encarar, com o virtuoso simplismo que é um dos atestados da nossa probidade, cada ramo da economia isoladamente, nós nos desvanecemos com o desenvolvimento comercial que possuímos, sem percebermos que esse desenvolvimento representa realmente o trabalho da conquista, da sucção, da drenagem, das nossas riquezas — desordenada e precipitadamente arrancadas à terra — para as nossas metrópoles econômicas.
Portos, cidades, estradas de ferro, rios navegáveis são sempre instrumentos de trânsito, nem sempre instrumentos de troca. As permutas entre sociedades que fazem comércio compensam-se e liquidam-se por lentas e amplas operações, durante longos períodos, de gerações para gerações. Ora, na vida de um país vasto como o Brasil, não há quem, saindo do Rio de Janeiro para qualquer direção, não encontre vastas regiões esgotadas; imensos tesouros saqueados; poucos depararão com alguma cousa que represente, para esse enorme capital extorquido à terra, alguma compensação