seio daquela organização de déspotas, cada um deles com uma exigência particular a ser satisfeita, sob a capa reacionária de um legitimismo que só funcionava na base de apetites expansionistas. Descontada a desunião interna, provocada pelo choque permanente de interesses que semeavam suspeitas e prevenções entre os monarcas que a integravam, a Inglaterra, por seu lado, a conselho e por iniciativa de Canning, já havia mesmo tomado posição contra os seus desígnios, não devendo tardar o golpe que seria desferido contra o seu prestígio, golpe esse que iria ter lugar, justamente, em Portugal, cujo governo os brasileiros supunham que estivesse fortalecido pelo apoio que poderia estar recebendo dela.
A transformação operada na situação portuguesa não deixou, entretanto, de ser considerada com simpatia pela Grã-Bretanha. A linha geral de comportamento das Cortes, que fora orientada no sentido de uma franca hostilidade a tudo o que era inglês, havia sido trocada, com a mudança do governo, por uma outra, mais construtiva, baseada numa expectativa de cooperação política e de trocas comerciais, entre as duas nações.
Diversos fatores contribuíram, de parte a parte, para tornar efetiva essa modificação de atitude. Do lado inglês, atuaram como elementos de aproximação, os velhos laços de aliança e de interesses que, desde muitos séculos, ligaram os dois países. Além disso, exercendo uma pressão imediata, existia a preocupação de Canning em restabelecer relações, as mais amistosas possíveis, com o governo de Lisboa, tendo em vista a necessidade de ser obtida, com rapidez, uma acomodação sobre o problema do Brasil, cujo comércio tornara-se altamente vantajoso para a Inglaterra. Do lado português, por sua vez, não escasseavam razões que justificassem um retorno, desde logo, ao antigo clima de amizade luso-britânica, pois D. João nunca deixou de recomendá-lo, e Palmela, agora