características singulares. Uma análise dos documentos contemporâneos mostra-nos que o objetivo não era, exatamente, a separação entre o Brasil e Portugal, mas a conservação do status de Reino e a unidade nacional. O romantismo de muitos de nossos historiadores e oradores de comícios sempre colaborou para que os sentimentos de brasileiros modernos fossem atribuídos aos homens dos decisivos anos de 1821-22. Um levantamento completo da situação revela-nos esta coisa muito simples: os brasileiros - e isto pode ser lido tanto em Hipólito José da Costa como no Visconde de Caeté, tão distantes no espaço como nas ideias, não pleiteavam senão isto: o Reino do Brasil gozaria, para sempre, das liberdades e direitos que D. João VI lhe outorgara ao elevá-lo a uma situação de paridade jurídica para com a antiga sede da Monarquia. Era, obviamente, o ponto de vista do velho rei e de D. Pedro. Sonhavam todos com uma forma política semelhante às dos domínios britânicos.
As Cortes de Lisboa, porém, dominadas por um ódio insensato ao Brasil e a D. João VI, confundindo seu quase republicanismo com uma violenta hostilidade à província americana que abrigara e defendera o rei, deliberou não somente anular a elevação do Brasil a reino, como, também, destruí-lo fisicamente, dividindo-o em governos autônomos. Pretendiam, com isto, retornar o Brasil ao estilo de administração que possuía quando não passava de um conjunto de feitorias no litoral de um continente coberto de florestas povoadas por hordas selvagens. Ora, o Brasil, àquele tempo, já era uma nação rica e culta. O reacionarismo dos deputados às Cortes de Lisboa possuía, porém, uma base real no Brasil: às províncias do Norte, por muito afastadas do Rio, não repugnava uma subordinação a Lisboa, de preferência à Guanabara. De qualquer modo, o Brasil, principalmente então, era um "arquipélago de culturas", nenhum