a penetração audaz, que foi uma epopeia escrita na sombra, ignorada não só da Bolívia como do resto do Brasil.
A vida torna-se então um permanente heroísmo. Heroísmo que, as mais das vezes, só dá como louro uma cruz fincada por cima de um corpo ainda quente de febre, em qualquer barranco cuja identidade se esquece em pouco tempo. Vida de selvagem, de sacrifícios. Vida primitiva que se denuncia desde o mísero tipo de habitação. Vida de luta incessante e multiforme. Contra o índio. Contra as feras. Contra a ganância dos senhores. Contra a cupidez dos "regatões". Contra as doenças e os insetos. Contra a solidão, o tédio, o desespero, sem ao menos saber ao certo para que servem aquelas bolas de borracha em que diariamente se transformam as gotas do seu suor.
O Brasil não se apercebe desse drama, que por ali está sendo escrito no silêncio de uma apostólica renúncia. Não ouve aqueles gemidos distantes, porque está a debater-se contra o digno furor com que o homem da rua vem bradando por que se quebre o látego dos senhores de escravos. Depois, porque se absorve na luta contra a onda que pretende derrubar o trono que se considera um entrave para o progresso da nova nação. O Acre fica muito longe para que seja ouvida a sua súplica.
Só a Bolívia continua a preocupar-se, e gravemente, com as medidas ajustadas no Tratado de 1867. Quer o início urgente dos trabalhos de demarcação a que se condicionou o instrumento diplomático de Ayacucho. Insiste a cada ocasião oportuna. Procura lembrar os compromissos de que os governantes da agora República dos Estados Unidos do Brasil parecem impertinentemente esquecidos.
A insistência não dá tréguas. É tão pertinaz, que acaba por se fazer ouvida, a 19 de fevereiro de 1895, quando o Chanceler Carlos de Carvalho ajusta com o Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário Diez de Medina,