Plácido de Castro, um caudilho contra o imperialismo

- Senhor Cônsul, venho aqui encarregado de uma grave missão. Venho em nome do povo deste rio e em nome do povo brasileiro, intimar V. Excia. a abandonar este lugar, porque não toleramos mais o governo boliviano que V. Excia. representa.

O diplomata não se perturba, porém deseja saber "quem está à frente desse movimento".

- Ninguém. Todos estão à frente.

Após ligeira troca de palavras para chegar a um entendimento - maneirosas as de Santivañez, arrebatadas as de Carvalho - a autoridade boliviana faz sentir ao espadachim, com certa ironia, que não viera para ali "em tom de guerra". E sim "em vista de um acordo celebrado entre o governo brasileiro e o...". Carvalho não o deixa terminar:

- Perdão, Sr. Cônsul. Entre o governo brasileiro, não. Entre um ministro do governo brasileiro - ministro esse que não tem competência para resolver questões desta natureza.

Trava-se novo debate, conservada a mesma duplicidade de tom. Por fim, vencido em suas inteligentes ponderações, Santivañez delibera ceder e retirar-se do Acre. Mas exige "uma intimação por escrito", para resguardar sua responsabilidade perante o governo de seu país. Na realidade, o arguto delegado visa munir-se de um documento firmado pelos brasileiros rebelados, que possa valer de fundamento a um protesto diplomático junto à Chancelaria do Rio de Janeiro.

Nessa mesma noite, Carvalho redige arrebatadamente a solicitada intimação, na qual, à violência com que verbera o procedimento dos governos boliviano e brasileiro, se misturam provas de simpatia que o elegante feitio moral de D. Moisés Santivañez acabara por lhes inspirar:

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