dessa abstração se aproxime - do copioso material de documentação inédita que nos foi proporcionado examinar. Documentação variada e rica, que vai desde os apontamentos, cartas, ordens do dia, manifestos e decretos assinados do próprio punho do caudilho, até os depoimentos autobiográficos e os diários de campanha dos seus comandados.
Só então se tornou possível tentar uma biografia honesta e dominada pelo mais rigoroso respeito à verdade histórica. Assim, não é por mero capricho de transposição romanesca que, no decurso desta história do campeador gaúcho, se diz, por exemplo, que era dia ou noite quando ele pronunciou tal frase, que chovia ou fazia sol ao se desenrolar qual acontecimento. Todos os dados aproveitados na elaboração dos cenários derivam de anotações fielmente tomadas aos diários e memórias de participantes da campanha, sobretudo participantes bolivianos, entre os quais se destacam os testemunhos do Tenente Aguirre Achá, Capitão Benjamin Azeui e Dr. Manuel J. Aponte, auditor da Delegação Nacional da Bolívia em Porto-Acre. Pois é doloroso dizer - mas precisa ser dito - que foram especial e quase exclusivamente os bolivianos que souberam imortalizar em seus livros os traços fundamentais da cavalheiresca figura de Plácido de Castro.
Ao leitor ocorrerá, neste instante, a pergunta inevitável: se os próprios adversários da campanha lhe imortalizaram as virtudes, por que se guarda em tão injusta sombra o nome do herói? Não por ser banal o feito, já que são os comentadores bolivianos unânimes em exaltar o seu singular estofo de guerreiro. Nem porque falte à história de sua vida aquilo que de mais puro pode iluminar a trajetória de um homem público - a honestidade incorruptível, a glória íntima de não se haver nunca vendido aos poderosos, quando é a hora de lutar pela liberdade contra os exatores dos movimentos de escravização individual ou coletiva. Por que, então?
A glória de Plácido de Castro permanece ignorada do Brasil por força de múltiplos e diversíssimos interesses pessoais e de facções. O silêncio que abafa o vulto do libertador do Acre reflete, primeiro, e na sua menor parte, o propósito de um reduzido grupo de militares exageradamente suscetíveis, que, por ocasião da ocupação da região litigiosa pelo Governo Federal, entrou em choque com a autoridade do chefe da revolução, cuja grandeza de destino, aliás, já fora consagrada justamente pela unanimidade das classes armadas do Brasil, as