João Maria: interpretação da Campanha do Contestado

Uma outra campanha, tão áspera quanto inglória, se adivinhava através do noticiário alarmante, prevendo-se os mesmos sacrifícios e as mesmas decepções que dominaram a luta em Canudos, alertando a imprensa às autoridades, pela pena de credenciados comentadores políticos, a necessidade de medidas imediatas e eficientes, capazes de evitar uma possível repetição dos erros e imprevidências que haviam sido, em parte, responsáveis pelo sacrifício, no nordeste, de numerosas figuras expressivas do Exército Nacional, de par com patrícios afastados dos mores dominantes da nossa cultura.

Mal sabiam os comentaristas que estavam, efetivamente, a antever e a predizer acontecimentos que sucederiam - e por três anos a Nação inteira acompanharia, dolorosamente emocionada, o desenrolar de uma nova luta inglória - que não se lustram as armas nas pelejas entre irmãos - com todo o cortejo sangrento e macabro das relações de vidas sacrificadas, de descrições de entrechoques e de combates cruéis, de encontros e de entreveros ferozes, em ínvias serranias, de emboscadas sinistras, no fundo sombreado dos vales agrestes de uma região despovoada e bárbara, quase totalmente desconhecida, à qual chamavam de Contestado, e que só então ia sendo desvendada ao país na sua acidentada topografia, através das descrições, narrativas e Ordens do Dia, que tarjavam de sangue e enegreciam de luto as colunas da imprensa diária.

E, como a luta se desenvolvesse entre sertanejos rudes e forças organizadas da Nação, animados aqueles, ao que se divulgava, pelo espírito de religiosidade incutido por um monge estranho, não faltou quem nela visse uma repetição exata e completa da campanha de Canudos. Fora o fanatismo religioso que explodira, numa luta titânica para sobrepor-se aos mores do resto do país, subvertendo a ordem e ameaçando o próprio regime.

João Maria: interpretação da Campanha do Contestado - Página 30 - Thumb Visualização
Formato
Texto