Canudos tivera o seu Euclides da Cunha; os observadores do Contestado, se não quiseram imitá-lo, pensaram em seguir as pegadas do mestre que alcançara a imortalidade com a sua obra imperecível. Não admitiram, ou não tiveram a preocupação de procurar a intercorrência de outros fatores, na gênese da luta, que não o religioso.
Fanatismo - fanatismo, apenas, de um grupo social desviado pelas doutrinas sediciosas de um místico, cujas práticas afastavam-se da ortodoxia católica. Fanatismo que o levara a tomar armas, que o conduzira à luta e ao desespero contra os que não aceitaram os princípios desvirtuados da sua fé. Fanatismo que o impeliu à rebelião, ao crime, à loucura - obrigando o emprego da força para o seu extermínio.
E, como a premissa tivesse sido aceita sem discussão, não se procurou sondar com maior cuidado as verdadeiras e remotas causas da sublevação dos sertões catarinenses, deixando como axiomático o ponto de partida da luta. Assim, escreveram-se alguns relatos, na sua maioria expondo os movimentos e operações militares, literatura alicerçada sobre notas e apontamentos tomados sob o calor dos combates, ao cheiro da pólvora, na antevéspera ou na sequência dos entreveros, pontilhados de breves depoimentos colhidos entre a escassa população local, de um ou outro prisioneiro, como da observação das pobres localidades atravessadas pelas tropas.
Outros surgiram, mais tarde, no meio civil, baseados nos apontamentos militares, alinhando novas observações. Quer os primeiros, quer os últimos, fizeram referências aos fatores de ordem social e política incidentes. Mas, em verdade, a nenhum deles se concedeu uma atenção maior, pois o fator religioso tomara conta de todas as preocupações e tudo se analisava e se discutia sob o colorido desse sentimento.