CAPÍTULO PRIMEIRO
PRIMÓRDIOS DO POSITIVISMO NO BRASIL
I) O Positivismo difuso; II) O Professor do Visconde de Taunay e os brasileiros alunos de Augusto Comte na Escola Politécnica de Paris; III) Brasileiros alunos particulares de Augusto Comte: Antônio de Campos Belos, Agostinho Roiz da Cunha e José Patrício de Almeida e Silva; IV) Felipe Ferreira de Araújo Pinho e Justiniano da Silva Gomes.
I
Os que se têm ocupado com a história do Positivismo no Brasil quase exclusivamente restringem o seu estudo à ação de Miguel Lemos e Teixeira Mendes, fundadores da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil.
Antes deles, porém, e mesmo paralelamente a eles, muitos foram os adeptos de Comte que contribuíram para a formação, entre nós, de uma atmosfera carregada de positivismo difuso. Já Miguel Reale, ao estudar Pedro Lessa e a Filosofia Positiva em São Paulo, observou que, tomado em seu sentido global, com seus princípios e coordenadas bem definidas, indo da crença no determinismo universal até à certeza da capacidade emancipadora do homem sobre a natureza — foi o Positivismo o eixo em torno do qual girou o estado de espírito de toda uma geração. Se, por vezes, são visíveis as diferenças de interpretação, variando com a personalidade dos autores, esta circunstância, entretanto, não destrói a linha comum de pensamento, ligando correntes e teorias que, na época, se supunham distanciadas. E, assim, acentua aquele publicista, livros "como o de Sílvio Romero, Doutrina contra Doutrina, contrapondo com veemência Augusto Comte a Herbert Spencer, chegam-nos hoje com vigor atenuado, como uma disputa entre irmãos ou primos".(1) Nota do Autor
Outra não é a conclusão do Professor João Cruz Costa segundo o qual a herança de Comte se manifesta sob variados aspectos, conservando, porém, o mesmo fundo. Há acomodações a condições e necessidades especiais de cada um dos grupos que recebem inspiração do filósofo, cujos "sucessores farão, deste modo, variar o sentido da doutrina em função dos seus próprios temperamentos".(2) Nota do Autor
Aceitando apenas o espírito geral da doutrina e o seu método, sem aderirem ao culto e às prescrições da Religião da Humanidade, foram os positivistas independentes que, nas últimas décadas