do século passado, tornaram possível encontrasse entre nós ressonância política a ação sistemática da Igreja e Apostolado Positivista.
Sem esses positivistas independentes (muitos dos quais ingressaram no magistério superior e secundário, militaram na imprensa, participaram do Governo Provisório, da Constituinte e das assembleias e governos estaduais, além de ocuparem importantes postos no Exército e na Marinha, no alto funcionalismo, na diplomacia e na magistratura) quase nula teria sido a influência política do Apostolado, frequentemente envolvido em problemas de ortodoxia e cerimônias litúrgicas, assim como se foi tornando imperceptível, em nosso cenário cívico, depois de escassearem entre nós os discípulos de Comte alheios ao grêmio de Miguel Lemos e Teixeira Mendes.
Sem a existência, no Brasil, de um ambiente saturado de positivismo, devido aos que, em graus diversos, muito antes do Apostolado, e fora dele, aderiram às linhas básicas das doutrinas de Augusto Comte, a influência destas últimas, no momento da fundação da República, teria sido um milagre tão inexplicável quanto o de Minerva ao sair armada de elmo, escudo e lança, da cabeça de Júpiter.
O valimento do Positivismo em nossa República, apenas oito anos depois de fundado o Apostolado por Miguel Lemos, não foi, na verdade, uma proles sine matre creata. Vinham de longe as suas raízes.
Se toda a atividade intelectual dos portugueses — como faz ver o Professor Cruz Costa, citando Lothar Thomas — "orienta-se para um sentido positivo, para uma forma concreta de pensamento, que se afasta e diferencia dos moldes das culturas dos demais países da Europa medieval, sendo fácil, desde a Idade Média, verificar no pensamento português a constância de uma posição empírica, pragmática",(3) Nota do Autor no Brasil essa tendência não só persistiu, mas ainda se acentuou, como o prova o desinteresse generalizado do brasileiro em relação às cogitações de natureza puramente abstrata ou metafísica.
No que diz respeito ao Positivismo, que, na linha de Bacon e Descartes, de modo mais direto, sistematizou a reação do espírito moderno contra a metafísica medieval, vêm quase do seu nascedouro os primeiros contatos de brasileiros com ele.
II
Refere-se o Visconde de Taunay, em suas Memórias, a certo professor de geometria — tormento, suor e lágrimas de sua passagem pelo Colégio Pedro II, pois fora por ele reprovado. Vangloriava-se esse professor de ter sido aluno de Augusto Comte, circunstância posta em dúvida pelo autor de Inocência.