Justiniano José da Rocha (1811-1862)

abandonado as suas fileiras, ora estava com o governo, ora estava em oposição. Não podia deixar de ser contraditório consigo mesmo e se forem esmiuçadas as suas opiniões certo ficará rompida a linha ideal de coerência de quem por tanto tempo doutrinou a vida pública do país. Compreende-se bem essa ondulação na esteira rígida dos princípios se se levar em conta a identidade de ideias com que nos seus programas os dois únicos partidos do Império traçavam a linha política da nação brasileira. Por isso mesmo, não foi raro que membros desses dois partidos pudessem servir a um ou ao outro, mudando de legenda conforme as circunstâncias os atraíssem para o governo ou os impelissem para a oposição.

O que, em regra, predominava no espírito desses políticos, entre os quais alguns foram grandes estadistas, era o empenho em servir ao país, com sentimento de verdadeiro patriotismo, que se positivava no alto nível a que se elevou, no longo período da monarquia, a vida pública brasileira.

É certo que para isso concorria decisivamente a figura central de Pedro II, com sua austeridade, sua devoção à causa pública; seu amor ao estudo e ao trabalho. Tudo no Brasil girava então em torno do monarca, exemplo de probidade, de modéstia, de brasilidade. A "ditadura da moralidade" que praticou pode ter sido, em alguns poucos casos, exagerada, motivando por isso possíveis injustiças. Mas o bem que fez à nação, como modelo de conduta superior, com o rigor de vigilância inflexível sobre os que serviam ao país com a ponderação e bom senso que o norteavam no desempenho da sua missão imperial, todo o conjunto de qualidades pessoais que possuía esse êmulo de Marco Aurélio se refletiu na vida pública nos cinquenta anos de reinado que tanto dignificaram o Brasil.

Justiniano José da Rocha teve, no período em que escreveu os seus jornais, uma indiscutível influência nos acontecimentos políticos que se desenrolaram no país. Com sua inteligência e sua cultura, servindo à causa de um partido, muito contribuiu para que na consciência nacional se consolidassem os princípios e postulados que haviam de assegurar à democracia brasileira uma continuidade que não sofreu com a mudança do regime em 1889, nem se alterou com as crises tantas

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