Introdução
A primeira vez que li a Relação de padre Martinho de Nantes foi na Biblioteca Nacional, valendo-me do texto de sua primeira edição, de 1706, data, se não de sua divulgação, certamente das aprovações eclesiásticas, subscritas pelas autoridades competentes. Confesso que o livro me impressionou vivamente, como documento do início do povoamento da região do médio S. Francisco, já na segunda metade do século XVII, pouco depois da expulsão dos holandeses. Dediquei-lhe, por isso, um capítulo especial no livro que publiquei em 1929, Pernambuco e o S. Francisco, destinado a versar menos um pleito de limites entre dois Estados do que uma reivindicação do patrimônio histórico de Pernambuco, no trabalho para o povoamento da margem esquerda do rio S. Francisco, incluída na sua jurisdição desde a carta de doação de Duarte Coelho, em que tinha como fronteira "todo o curso do dito rio". Ao contrário da versão corrente, de donatarias demarcadas apenas no litoral, com a fixação de pontos a partir dos quais se deveria correr uma linha na direção do Oeste, a donataria de Duarte Coelho, como a de Martim Afonso de Sousa, surgira com fronteiras definidas. Até mesmo pela razão de haver a capitania pernambucana admitido, como limite, o curso do rio S. Francisco, quando, seguindo a linha do litoral, teria direito a uma vasta região do atual nordeste da Bahia; a menos que se adotasse a tese de que o curso do rio só serviria de fronteira quando favorecesse a capitania doada a Francisco Pereira Coutinho. Uma reta tirada dos 10,5º da foz do S. Francisco alcançaria novamente o curso do rio um pouco ao norte da atual cidade da Barra do Rio Grande.
Para evitar a irradiação do movimento da Confederação do Equador na direção de Minas Gerais, o imperador Pedro I desanexou de Pernambuco a comarca do Sertão, que seguia pelo curso do rio até a confluência do Carinhanha, incorporando-a provisoriamente à província de Minas Gerais e, três anos depois,