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Maria Bárbara a Luís Paulino
Oito de outubro de 1821
Meu Luís:
Podes supor o estado da minha alma. Afirmo-te que não sei como vivo. Saudades, cuidados de toda a natureza rasgam a minha alma por mil modos. Já te contei, numa das minhas cartas que te escrevi, o que o infame, o cobarde, o maior dos monstros fez.(1) Nota do Autor Logo que tu partiste, espalhou que te deu muita pancada, que te desafiou e tu baixamente não aceitaste o desafio, e de [tal] maneira arranjou as suas mentiras que todos os infames da terra o acreditaram. Precisa, precisa não sossegues fazeres ver a tua honra e o crime do infame [sic]. Não durmas. Têm-te desacreditado e mesmo pessoas sensatas ficaram abaladas. Escreveram para Portugal maculando a tua honra. Eu quero ver-lhe aquela maldita farda arrancada daquele indigno corpo. Ora, como ele disse que no dia 29 te desafiara, eu felizmente tenho a carta dele, que te remeto, em resposta ao ofício que Luís lhe fez em que tu lhe dizias: "Se acaso ainda se conserva doente, mande dizer onde se acham os papéis". E em cuja carta ele dizia, como se vê, que estava muito doente, mas que, assim mesmo, com o maior incômodo, sairia. Eu nunca vi tão negra traição! Meu filho, eu tenho ânimo de beber-lhe o sangue. Cuida em vingar-te desta afronta, com que querem macular teu valor e virtude. Não te fies nas tuas qualidades. Vai outro papel que ele te deixou. Saberás que aqui continua o despotismo no seu maior auge. Já está feito capitão