algumas carnes podem ser consideradas "quentes" e os peixes de carne branca podem ser "frios". É há tabos não-ritualísticos por propriedades orgânicas desvaliosas dos animais, como os que são muito pequenos, de carne insossa ou espinhenta.(79) Nota do Autor
Diz Nunes Pereira: "a carne do veado é excessivamente 'quente' por certas pessoas ou tida como reimosa". Anote-se que há plantas consideradas "machas" e plantas "fêmeas", que, por esta distinção, podem influir nas beberagens. O levantamento taxionômico feito pelos autores citados revela um quadro deveras expressivo na colocação da série de peixes, mariscos, caça, tubérculos, frutas e legumes considerados "quentes" ou "frios" e no qual têm lugar a paca, o jabuti, a cutia e o veado.
Há repugnância pelo baiacu (peixe venenoso), pelo amoré (com forma de cobra), pelo boto (ainda que sirva de alimento em muitas tribos), pelo candiru (que, por ser fino, invade as vaginas das banhistas).
São também evitados na região do Salgado (Pará) o aratu, o sarará e o supaquam. Ainda que participem de algumas mesas, são geralmente desprezados: "tralhoto, sardinha, pitiú, tubarão, espadarte, cação, arraia" — considerados de carne dura, espinhosa e sem sabor.(80) Nota do Autor
Ora, acreditamos que os mesmos preceitos, ojerizas e restrições, pelos mesmos motivos, devem colaborar na seleção alimentar do indígena, levando, contudo, em conta crises, por secas ou enchentes, que podem alterar as posições gustativas.
Dando um balanço nos tabos alimentares, chegamos a algumas conclusões que podem ser melhor avaliadas.
Dietas eventuais:
a) casos de doença;
b) estados fisiológicos de caráter periódico: gravidez, parto, menstruação;
c) ritos de passagem.
Interditos permanentes:
a) por ser o animal ou o vegetal portadores de ação venenosa;
b) por se tratar de alimento impróprio ao gosto ou à mastigação;