A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

e fecundação da terra; tudo isso seguido de cerimônias próprias, coloca o alimento, repetimos, dentro de contingenciamentos sobrenaturais e cósmicos, de tal modo que vem formar um dos topos da bipolarização mágica: o alimento e a simbologia fálica do magismo sexual (força, valentia e estímulos procriadores).

Esses dois elementos do contingenciamento levaram o homem, de um lado, através do nomadismo, a palmilhar terras e confins, e de outro, a fomentar o povoamento e a divisão de trabalho, a evoluir do regime livre da promiscuidade sexual ao sistema de família, metades ou clãs, e a criar um sistema de segurança, de que o alimento é um dos principais suportes esotéricos, isto é, de origens alcantiladas no mistério.

Nos tempos bíblicos vemos a preocupação de Moisés em dizer ao seu povo o que devia e o que não devia comer. Não se trata do que faz ou não faz mal organicamente; trata-se de tabos mágicos devidamente classificados nas suas vantagens e nos seus perigos.

Procuramos, assim, abrir caminho para as pesquisas num novo campo de experiência e análises, que ousaríamos classificar de "sociologia mágica", isto é, o estudo das sociedades que baseiam os seus escalões de virtude e sobrevivência num status onde as superstições arraigadas aos grupos e os princípios condutores da vida ficaram tão colantes às sociedades primitivas como pele na carne.

A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica  - Página 146 - Thumb Visualização
Formato
Texto