as iras do grande chefe, o qual, primeiro, desencadeou um incêndio universal e, em seguida, o dilúvio. Apagou o fogo e fez a terra fecunda aos novos homens. Andou ele entre os primeiros Tupinambá, nação imensa que absorvia Tamoio, Temiminó, Tupiniquim, Caeté, Tabajara, Potiguar, Guajajara, Mundurucu, Parintintim, Tembé, Apiacá, Maué e mais de 25 outras tribos relacionadas pelo general Rondon. Como esses povos estivessem espalhados do Sul ao Norte do Brasil, qualquer que fosse seu nome grupal, Tupinambá é o que ele gostava de dizer que era.
Assim sendo, como se fora Monan ou não, com outro nome ou outras insígnias de poder, a verdade é que os heróis transformistas de todas as tribos vieram na crista do encantamento, com as grandes rutilâncias mágicas da gênese. Vieram obrando maravilhas, como a criação dos animais, dos seres humanos e das plantas. Vieram ensinando a maneira de trabalhar a terra, de conquistar alimentos, de cantar, de dançar, de caçar, de conhecer os perigos e como livrar-se deles.
Se Monan é o mais velho na galeria mitológica do índio brasileiro, ninguém sabe, pois, igual a ele, outros se apresentaram formando o mesmo espetáculo de vida e mistério. Tupã, Mavutsinim, Uanskem, Anawira são seus duplos, com a desvantagem, exceto o primeiro, de não terem saneado a terra com o dilúvio ou o fogo. Mas a cada um coube uma porção do universo primitivo para as suas aparições.
Mas, sendo os Tupi raízes de todos os povos litorâneos pré-cabralinos e dos que invadiram o Amazonas pelo sul ou pelo leste, até o encontro com os Nu-aruak, os Jê e os Caraíba (Karib), além das etnias sem testemunho de origem, cabe considerar que, desde Monan, os alimentos interditados estavam agrupados, tanto que o seu sucessor Maíra-Monan ou Mair, depois de ensinar aos homens os cursos do Sol e da Lua (conforme Thévet) ou de os esclarecer sobre a imortalidade da alma, passou a adverti-los quanto às frutas e plantas venenosas ou más, assim como às carnes de certos animais pesados e lerdos, pois nocivos eram à saúde, de vez que os tornariam igualmente pesados e entorpecidos nas caçadas ou na guerra. Também interditados ficavam os peixes que não eram vivazes ou ligeiros durante o inverno, estivessem no mar ou nos rios, pelas mesmas transferências de fraqueza que podiam ocorrer.
Eis aí como os mais velhos tupinambás e guaranis sabiam dos mistérios do alimento, de modo a poderem impor restrições aos seus ímpetos pantofágicos, o que ocorre em momentos certos de certas fases em que o ritual mágico é invocado.
Se uma festa de alimento, seja de mel ou de milho, não for seguida de modelos tradicionais mágicos, isto é, respeitando o tempo