1. Os ctonófagos estão espalhados no mundo
O vício, além de contaminar, fora da Amazônia, outras regiões brasileiras, tem caráter universal.
Os Tupinambá, vindos do Sul, alcançaram o rio Madeira, no Amazonas, e se distribuíram nas cabeceiras dos rios e mesopotâmias. Levaram consigo a sua tradição geofágica.
Sobre os Tupinambá do Maranhão, escreveu Ivo d'Evreux:
"São muito sofredores em sua miséria e fome chegando até a comer terra, ao que acostumam seus filhos, o que vi muitas vezes. Vi muitos tendo nas mãos uma bola de terra que há em sua aldeia como 'terra sigilada', a qual apreciam e comem como fazem as crianças em França com as maçãs, as peras e outros frutos que se lhes dá."(1) Nota do Autor
Nas notas a esta passagem pode ser verificada a extensão do vício fora da Amazônia brasileira:
"Largamente descreveu Humboldt a região dos otomanos (refere-se, sem dúvida, aos Otomac) e as porções imensas de terra que reúnem estes índios para comer quando lhes falta a caça e a pesca. Pensa o grande viajante que esta terra seca ao sol, formando tulhas de bolazinhas, dispostas simetricamente, é saboreada pelos selvagens por conter partículas animalizadas (sic) e que a fazem nutritivas. Prova o padre Du Testre que tanto os índios das ilhas como os do continente comiam terra, embora pense que seja por absorção de gosto. Todos comem terra, mães e filhos, diz êle, e a causa de tão grande aberração de gosto não pode proceder, penso eu, senão de um excesso de melancolia."(2) Nota do Autor
Aqui surge uma novidade, a de que o barro contenha restos de animais ou mesmo animálculos que transmitem algum gosto peculiar à argila.
Em outra nota sobre os relatos de Ivo d'Evreux vem referência aos índios Pinaco, no Ucaiale (Amazônia), "afamados comedores de terra", o que mereceu de Moreau de Jonnes um opúsculo sobre a geofagia nas Antilhas.