O dono da mandioca era o veado e era ele quem sabia como tirar-lhe o veneno. Keri, um herói dos Bakairi, lhe pediu um pedaço do tubérculo, mas o veado não quis dar. Brigaram. Então Keri lhe soprou na cabeça e nela nasceram chifres. Keri se apossou da mandioca do veado e fez tudo porque, ate então, só comia beijus feitos de barro.(20) Nota do Autor
Na lenda dos Pareci, as gentes, no começo, comiam "frutas de jatobá, de buriti, madeira podre e terra".(21) Nota do Autor
Apenas ligeiros tópicos, para mostrar que a tradição oral reflete a geofagia como algo arraigado à vida dos homens da selva. Aparentes brinquedos não passam de guloseimas geofágicas:
"[...] enquanto as grosseiras figuras de barro dos Bakairi, longe de serem, como primeiro supúnhamos, brinquedos de criança, eram para se comer como os doces a que nossos confeiteiros dão figuras análogas. (Como é sabido, o uso de comer certas qualidades de barro é muito espalhado entre os povos selvagens do continente sul-americano — N. T.)".(22) Nota do Autor
Singular o que relata um cronista anônimo sobre uma das maneiras de suicídio dos Tupinambá:
"Tem este gentio outra barbaridade grande e é quando algum tem ocasião de desgosto, que reputa por deshonra de sua pessoa, se delibera a morrer, com resolução estranha, deixando de comer até que perde a vida ou comendo terra para o mesmo fim".(23) Nota do Autor
Numa das cantigas indígenas coletadas por Barbosa Rodrigues, a do "Mutum" torna clara a vocação geofágica dos índios: "Mytu erure ce igara chá çu arama cha utuyuca", ou seja, "Mütum traz minha canoa eu ir para eu comer barro".(24) Nota do Autor
Em sua viagem ao rio Negro, A. Russel Wallace conta que um indiozinho de nome José "morreu em consequência do vício de comer terra, hábito esse muito comum entre os índios e mestiços das casas dos brancos, e que, às vezes, lhes acarretam a morte".(25) Nota do Autor
Haveria uma aplicação medicinal do barro?