mudando frequentemente de residência e não mostrando quase nunca um verdadeiro amor filial ao torrão, expresso e manifestado em obras arquitetônicas de duração perpétua.
Será - pergunta Goeldi - que faltou ao habitante do território cisandino pendor para uma séria arquitetura ou apenas ficou latente devido a circunstâncias alheias e de força maior, como, por exemplo, a falta de material idôneo, a ação deletéria e corrosiva do clima ou - last but not least - o desassossego, as atribulações de um longo período de migrações forçadas e o contínuo aperto e acossamento criado por vizinhos belicosos e turbulentos? Segundo Goeldi, não é fácil a resposta. Entretanto, continua ele, se repararmos na aperfeiçoada cerâmica marajoara, no possível parentesco que se apresenta no exame de certas tendências de ornamentação entre os artefatos dos antigos moradores de Iucatã e os antigos moradores da ilha de Marajó e do litoral da Guiana, consideraremos quase impossível que estes mesmos oleiros não tivessem conhecido o recurso do tijolo como sucedâneo da pedra de construção. Supõe Goeldi que os índios encontrados pelos descobridores do Novo Mundo julgados autóctones talvez não o fossem e provavelmente seriam relativamente novos no Brasil, elementos alienígenas, gente que veio de mudança e que ainda não podia resolver-se a fazer obras que desafiassem o tempo, talvez por não sentir a satisfação de se achar instalada de vez em sua casa.
Com respeito aos cariba, classifica-os Goeldi de bravos, soberbos e cruéis, essencialmente guerreiros, vitimando, acossando e depredando os vizinhos.
Supunha-se que a sua Pátria tivesse sido a América do Norte, opinião corrente e sustentada por Petrus Martyr, o inglês Bristock, o francês de Rochefort e até por Humboldt; mas ganha terreno, afirmava Goeldi em 1896, a doutrina oposta de que a Pátria dos Cariba deve ser procurada no sul do Amazonas, no coração do Brasil, e que o domínio deles se estendeu do Sul para o Norte, encontrando e exterminando os nuaruaque, que faziam um movimento de migração inverso, isto é, do Norte para o Sul. Foram estes nuaruaque que, com bastante probabilidade, irradiaram das Antilhas para o Sul, ocupando o litoral da Guiana até a foz do rio Amazonas, e que nos tupi do litoral, por um lado, e nos caraíba centro-brasileiros, por outro, encontraram inimigos e adversários que lhes infligiram a imperiosa necessidade de mudar a direção original da marcha intentada.
A opinião de Goeldi sobre a cerâmica de Maracá, embora reconheça na olaria dessa região que o oleiro respectivo manifesta uma individualidade singular, não exclui, entretanto, esta arte da comunhão do oleiro de Marajó, da ilha do Pará, de Cunani e de Miracanguera. Segundo Goeldi, os construtores da cerâmica do Amazonas