Fragmentos de cerâmica brasileira

Um dos argumentos de Goeldi sobre a recente idade da cerâmica de Maracá são as famosas "pérolas venezianas", miçangas de vidro de origem europeia, achadas num dos ídolos-urna daquela região. (Ver nota da p. 57.)

Enfim, a opinião de Goeldi sobre a antiguidade dos cerâmios no Brasil é a de que são pós-colombianos.

Raimundo Lopes não concorda com a hipótese de Goeldi e afirma ser a expansão aruaque anterior à colonização. Conclui, também, que as semelhanças, aliás importantes, entre os aruaque e os índios extintos fazem antes supor uma "derivação cultural" do que uma "identidade e coexistência".

Segundo seu ponto de vista, há no extremo norte do País, em contraste com as culturas mais adiantadas, uma série de cerâmicas toscas, muitas vezes sem pintura, representando uma etapa inferior na escala evolutiva; são as urnas-ídolo de Maracá, parte da cerâmica do baixo Amazonas, a do sambaqui maranhense de Maiobinha etc. Como cerâmica adiantada, Raimundo Lopes dá a de Cunani, mounds de Marajó e a das estearias do Maranhão.

Continua Raimundo Lopes:

"Os atuais povos indígenas da Amazônia, entre os quais avultam os aruaque, dispõem de cerâmica bem adiantada, que reflete aspectos das elevadas culturas extintas. A assimilação de culturas de outros povos por contato ou conquista deu-se largamente com o tipo étnico aruaque, que nas Antilhas adotou outras formas culturais, com vasos mais toscos, braçaletes de pedra e machados antropomorfos; os cariba, por sua vez, apoderaram-se das mulheres e com elas da indústria aruaque."

Estudando o estilo cerâmico de Cajari (Maranhão), Raimundo Lopes encontrou traços comuns na civilização de Chiriqui, no istmo do Panamá.

"Aproximando-se, embora mais do que Marajó, da estilização complicada dos povos mexicanos, Chiriqui tem nos seus desenhos muito da estética dos nossos índios extintos: no predomínio das faixas curvas e espiraladas; na estilização zoomorfa em que se passa do animal confundido com a forma geométrica do vaso (como no Cajari) ao ornato animal "aplicado" ou "pintado", dominante em Marajó.

Nas estatuetas faloides ressalta o parentesco com Marajó.

Através de Cauca e do Napo assinalam achados de Uhle o trago de união entre Marajó e a civilização do istmo.

De um modo geral, as civilizações da Amazônia têm notável analogia com as do México e da Centro-América."

Outro autor citado por Raimundo Lopes, chamado Herbert J. Spinden, na sua obra Ancient Civilization of Mexico and Central America, interpretando de um modo largo as relações da cultura arcaica e os achados de Max Uhle e Berthon nos Andes, mostra-nos a América invadida por tribos asiáticas em baixo estado de nomadismo

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