Donde a verdade daquela afirmativa de Tocqueville, de que para compreender o presente é preciso estudar o passado.(2) Nota do Autor
A questão das datas, pequeno interesse desperta nos estudos deste feitio, a não ser naquelas que assinalam as grandes linhas divisórias entre épocas e reformas capitais. Fora daí, citá-las-emos por diversas vezes, sem lhes darmos, contudo, um valor que, de verdade, não lhes reconhecemos.
O evidente mal destes estudos está na sua feição de monólitos intelectuais, que de ordinário assumem, pesados, maciços, rígidos, uniformes. Saem das mãos ilustres que os trabalharam como blocos inteiriços de sabedoria, como verdadeiros monumentos de exegese histórica. Mas, esse mesmo caráter que os exalta, e que os distingue, torna-os incapazes de preencher os fins a que governo, parlamento, associações, ou os próprios autores os destinavam: os fins da propaganda, da elucidação ou da vulgarização entre as classes de que se entretece a sociedade brasileira.
Projetam-se obras acessíveis e saem tratados complexos de história ou de ciência política. Visa-se o povo que produz, e serve-se, apenas, a minoria dos homens lidos ou eruditos. Pretendem-se volumes que disseminem as noções gerais da história e da ciência econômicas, que apanhem as leis cardeais da desenvolução agrícola ou industrial, e, na realidade, o que em regra se produz são obras de erudição, vastas e exaustivas, que terão a sorte de ficar como livros de consulta, nas bibliotecas, ou como objetos de adorno, nas estantes da gente rica.
O abuso das datas, as largas nomenclaturas, vigorosamente condenadas, hoje, pelos reformadores do ensino da história e da geografia humana, tomam, a meu ver, o aspecto de altas paliçadas que impedem as projeções do espírito, que obstam ao desenvolvimento das ideias gerais, que cortam ao meio o fio dos raciocínios.