fotografia exata da situação da lavoura em seu país nesse período a que aludimos. Não nos furtamos ao desejo de reforçar com as suas palavras os nossos argumentos: "Fomos marinheiros audazes e destemidos, mas faltou-nos o senso prático, a ciência feroz da vida, ciência que dá a força e o mando supremo aos que a possuem; não aproveitamos as conquistas; não soubemos ou não pudemos segurar com uma colonização séria e efetiva todas as regiões que descobrimos, e nem ao menos conseguimos explorar a valer o nosso próprio território na Europa.
Chama-se a Portugal "um país essencialmente agrícola", mas isto é apenas uma banalidade falsa — porque, durante a nossa já longa vida histórica, temos tido mais que fazer do que arrotear o solo.
No período inicial da nossa existência como nação, vimo-nos forçados a uma luta de mais de dois séculos para mantermos uma autonomia artificial, dificilmente explicável, e mal podíamos olhar para os interesses da agricultura. Consolidada a independência, apertados como estávamos entre o mar e um país forte e despeitado, estendidos ao comprido sobre uma estreita faixa de território quase todo árido e improdutivo, fomos fatalmente impelidos para esse oceano lendário e misterioso.(9) Nota do Autor
Mais adiante, tendo falado dos descobrimentos marítimos e da sujeição de Portugal ao domínio da Espanha, o mesmo autor escreveu: "Seguiram-se depois a reconquista da independência, o protaimento de lutas, as invasões de estrangeiros; e durante todos estes longos períodos a exploração da terra e as indústrias agrícolas não passaram dum estado em extremo rudimentar e precário."
A segunda causa, menos importante, aliás, de ordem física, provinha do esgotamento da terra, exausta de uma produção tantas vezes secular. É verdade sabida e trivial que o solo também cansa. A lavoura alimenta-se de uns tantos elementos ativos