Pontos de partida para a história econômica do Brasil

existentes nele. Com os anos, esses princípios, continuamente consumidos pelo trabalho de absorção e nutrição das plantas, rareiam. A terra faz-se pobre, a lavoura reflete essa penúria, e com uma e outra o lavrador sente-se vencer. Apela-se, então, para o reforço artificial da terra. Mas chega um momento em que o esforço empregado para restaurá-la e fortificá-la não oferece probabilidade de compensação, e o homem busca, quando pode, noutro ramo de atividade, a prosperidade que a terra empobrecida já lhe não dá.

Os próprios indígenas do Brasil construíam suas aldeias por um prazo relativamente curto, de três a quatro anos, enquanto apodreciam os tetos de palmas de suas choças. Isto porque, no seu juízo, após esse tempo, fatigada a terra, já não dava com fartura a mandioca.

Ora, a estreita faixa de território, quase todo árido e improdutivo, que era Portugal, vinha sendo trabalhada, nos seus melhores trechos, de longos séculos, e, cansada, já não oferecia um campo bastante compensador aos agricultores. Disto resultou, senão propriamente a corrida para o oceano, ao menos, com o abandono da lavoura, o despovoamento dos campos e o povoamento das naus e caravelas do descobrimento.

Em Portugal, com os descobrimentos marítimos, quando obedeceu ao que Antônio Sardinha chamou "a atração da lei dos litorais", evidenciou-se uma terceira causa determinante do desapego à lavoura. De um momento para outro, rasgou-se ao espírito aventuroso da raça heroica um horizonte muito amplo. Terras imensas, integradas pela audácia e pela tenacidade de seus navegadores, no reino português, careciam apenas de quem lhes fosse retirar as riquezas prodigiosamente acumuladas. O sonho das especiarias indianas, e, depois, o das minas e produtos florestais do Brasil, acabou de aniquilar o entusiasmo pela lavoura em Portugal. O que se lhe afigurava um sonho ou fantasia oriental, quando as galeras venezianas surgiam em Lisboa atestadas de especiarias e pedras

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