Chegavam aqui os fidalgos com imensas concessões. Os plebeus, estes também não tinham necessidade de voltar à vida do campo, que haviam desprezado na terra natal, para buscarem a rápida riqueza. Aqui se lhes oferecia um cenário mais vasto, de proventos imediatos, a caça ao índio e sua escravização, fruindo ainda o resultado do trabalho do escravo negro.
Nem era apenas o fidalgo que se eximia de trabalhar; era o próprio vilão, o campônio, que se vingava da sua antiga situação, assumindo a exploração do índio, e do negro, trazido este das colônias portuguesas da Costa de África.
Assim, indivíduos paupérrimos na pátria, após algumas batidas nas florestas brasileiras, regressavam ricos, porque traziam dezenas ou centenas de escravos, que podiam vender e até exportar, gozando mesmo de uma isenção de impostos nessa exportação quando ela se fazia dentro de um certo limite. A lavoura, posta deste jeito em plano secundário, não podia, em face de tais precedentes, avultar, então, no Brasil.
Fosse com o regímen das feitorias ou entrepostos comerciais, estabelecidos antes no Oriente por D. Francisco de Almeida, fosse com o império apoiado no poder naval, como entendia Afonso de Albuquerque, Portugal, como todos os países colonizadores, aplicou ao Brasil nas primeiras décadas da colonização a lei do menor esforço. Se era possível enriquecer de um dia para o outro, fazendo escravos ou disfrutando o trabalho dos escravos, não seria curial nem humano que se fossem entregar à lavoura senão no indispensável ao abastecimento dos núcleos de população que se iam estabelecendo, e que dispunham, aliás, de peixe e caça abundantíssimos,