Pontos de partida para a história econômica do Brasil

os mais recatados e austeros escritores portugueses a uma voz o proclamam em todos os seus livros, e os próprios soberanos de vez em quando saíam de seu sonho oriental de fastígio e de riqueza para verberarem os rumos tomados pela administração e pela colonização do Brasil. Pode-se indicar, aliás, como síntese dessas reações da Coroa, a "Instrução expedida no 1º de outubro de 1771 a José d'Almeida Vasconcellos, governador e capitão-mor de Goiás, em que se contêm todas as noções dos males que padeceu aquela importante Capitania, para se precaverem, e os remédios específicos com que ocorreu a cada um deles a iluminada e paternal providência de Sua Majestade." Aí se faz sentir que foram "as cobiçosas prevaricações do governo geral e dos magistrados, que nelas se esqueceram do temor de Deus e do respeito das leis, e dos eclesiásticos, que abusaram de seu santo ministério vexando os povos," o que levou a citada Capitania à ruína. Esta Instrução, que é extensíssima, pormenoriza as extorsões, os vexames, os desvios, os desatinos praticados contra os colonos, e de parceria com eles, contra os selvícolas.

A Coroa teve uma grande parcela nesses erros, de tão graves consequências, muito embora não raro procurasse acobertar-se da responsabilidade perante o tribunal da História acusando fortemente os seus representantes e os povoadores do Brasil. Mas, se a verdade histórica é esta, verdade também é que o pequeno e despovoado reino de Portugal, reduzido, àquela época, por fatores conhecidos, à maior penúria, não podia adotar outro sistema que o das feitorias, para a primeira ocupação, e das capitanias, depois. D. João III, a quem com justiça Oliveira Martins cognominou de Rei Colonizador, ficou, com seu país, em tal pobreza que espanta houvesse tomado a iniciativa de colonizar tão vastos territórios ultramarinos, espalhados à flor dos mares. Ele tinha que comprar, ou construir naus, armá-las, povoá-las, manter-lhes as guarnições. Era, pois, num país em bancarrota, a sangria no capital monetário e no capital humano. Portugal mal recenseava, então, um milhão de habitantes e, quanto aos seus recursos materiais, vem a propósito

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