citar este aviso reservado da Cúria Romana ao seu embaixador, o Núncio Apostólico em Lisboa, de referência a D. João III: "Portugal tem chegado a tal limitação, que é de pouquíssimas forças; e seu Rei, além de pobríssimo, com grandes dívidas dentro e fora do Reino, e pesadíssimos juros, que tem de satisfazer, é mal visto do povo e muito mais ainda da nobreza."
Para a formidável empresa da colonização esse monarca pôs em cheque não só as últimas energias da nação portuguesa como sacrificou o seu próprio tesouro pessoal. Tal empresa, é o que se deduz da informação papal, o havia até conduzido à impopularidade, visto com hostilidade pela nobreza e antipatia pelo povo, naturalmente ansioso de uma era de descanso após tantas de revezes e sobressaltos. Ele deu, pois, à colonização tudo que podia, mais do que podia. Se o Brasil não lhe houvesse retribuído dadivosamente o seu arrojo, que teria sido de Portugal?
Quanto ao regímen das capitanias, que alguns publicistas brasileiros têm verberado, precisamos atender à época em que a nossa Metrópole o utilizou. Safa-se apenas da Idade Média. A capitania era uma organização medieva. Os povos não podem caminhar adiante de seu tempo. Nem era possível estabelecer aqui organizações de feitio mais liberal, nem mais aptas a fomentarem o desenvolvimento da colônia, nem mais subordinadas à lei e à autoridade real, de molde a se evitarem os excessos que todos lamentamos, quando o país que se arrojava à ciclópica empresa raspava seus cofres e tomava emprestado para as simples despesas da ocupação. Não é possível fazer a crítica histórica sem esta visão retrospectiva dos fatos e da época, usos, conceitos e homens, diante dos quais aqueles se processaram.
Cada donatário, que se passava ao Brasil, vendia geralmente tudo quanto possuía, reunia os parentes, os empregados, as pessoas amigas, e com eles se transportava para a terra virgem da América. A maior parte de seus haveres ia-se no preparo da expedição, no seu custeio. É fácil de recompor o cenário desta