...Assim, até a alcovitice, a molície, o abraçar e beijar, adivinhar, lançando sortes, e tantas trivialidades, levavam à prisão, ao degredo, senão ao suplício, por meras denúncias que os juízes estimulavam nas devassas de janeiro; somente se excetuavam do degredo os acusados de sodomia e crimes contra a fé.
Claro é, pois, que, com tal código, muitos dos degredados, a maioria deles, eram gente honesta e trabalhadora.
Forçoso, porém, será convir, a despeito dessas exceções, das quais promanaram famílias dignas e prestantes, e com o historiador português Rebello da Silva, que o que "facilitou mais do que tudo a entrada no Brasil aos holandeses, foram os erros do governo e o estado moral da colônia", que "as testemunhas e as opiniões são concordes em pintar com as mais sombrias cores."
Desse caos, dessa falta de estabilidade e de garantia, dessas competições e desses crimes, não podia resultar a organização de uma cultura intensiva do solo. Muitos dos engenhos construídos, quando não eram destruídos pelos selvícolas nas suas vinditas coletivas, eram abandonados à falta de braços. Não há classe que mais careça de tranquilidade e de ordem para vicejar, progredir, expandir-se, porque, em caso de assaltos, levam os assaltados suas alfaias, mudam as máquinas, escondem as preciosidades, como se fez em São Vicente quando do saque dos piratas de Cavendish; as plantações, as searas, não se levam, como não se precipitam as colheitas.
Esse estado moral e político da colônia teve, assim, uma terrível repercussão na sua nascente agricultura.
Arrolamos, entre as causas de atraso da nossa agricultura colonial, as incursões e assaltos dos selvícolas às nascentes povoações e suas respectivas lavouras e campos de criação. Os que conhecem a história do Brasil um pouco além da nomenclatura fastidiosa dos compêndios, sabem que esses ataques se tornaram tão frequentes nas primeiras décadas, e ainda mais