Há inúmeras ordens e resoluções da Coroa profligando esses maus tratos, que chegavam ao horror dos suplícios e dos morticínios, ordens e resoluções ditadas mais pelo receio do êxodo dos selvícolas e seu crescente rancor, que pelos sentimentos de piedade incompatível com os processos desse tempo. Bastar-nos-á, todavia, recordar, aqui, um célebre documento da Coroa, notável por sua franqueza e energia, e expedido a José d'Almeida de Vasconcellos, governador e capitão-general de Goiás, cujo artigo 57 rezava: "Viu que o dito método também não era o com que os portugueses e os missionários, que os acompanhavam debaixo do pretexto da propagação do Evangelho, entravam armados pelos sertões do Brasil à caça dos índios, como se fossem feras, não para os atraírem com brandura e suavidade, mas para massacrarem todos os que lhes resistiam, e para reduzirem os que escapavam da morte, e lhes caíam entre as mãos, a uma escravidão dura e cruel; de que resultou internarem-se os mesmos índios pelas matas e sertões, fazerem-nos daí uma contínua, incômoda e desvantajosa guerra em sua justa e natural defesa, e ter Sua Majestade todo o centro das suas colônias coberto de inimigos implacáveis do nome português, em lugar de ter vassalos úteis que fertilizassem as terras das mesmas colônias."(29) Nota do Autor
Não era somente esta a causa da falta de braços, e consequente estagnação da lavoura; outras havia, e entre elas cumpre apontar a da mobilização dos homens do campo toda vez que era preciso fazer guerra ao selvagem ou ao estrangeiro.
Esta situação tornou-se de tal jeito vexatória que a 25 de agosto de 1781 o vice-rei Luiz de Vasconcellos e Souza, escrevendo para a Corte, podia dizer: "Além de ser inteiramente impraticável esta providência, é de grandíssimo prejuízo a estes povos e de grande despesa à real fazenda, porque, sendo estas tropas compostas de lavradores, vulgarmente chamados "roceiros",