que, abandonando suas casas e famílias, passam obrigados e cheios de violência, sem algum soldo que os anime, às grandes distâncias dos mesmos registos, não só deixam de trabalhar na cultura dos terrenos que possuem, perdendo por isso o lucro que deles podiam adquirir, mas também vêm por consequência a diminuir para a subsistência destes povos os mantimentos de primeira necessidade em cuja produção se ocupavam aqueles lavradores, e este prejuízo, ainda que pareça insensível, é de uma grave consequência."(30) Nota do Autor
É fácil de compreender a situação a que se relegara a lavoura, nos dois primeiros séculos da colonização, retirando-lhe, a cada passo, os braços de que ela minguadamente dispunha. A lavoura requer, de si mesma, continuidade e ação. Na terra virgem da região tropical, a vegetação natural do terreno esmaga em breves dias as lavouras, se não lhe toma o passo o lavrador nos serviços permanentes de limpa de seus campos. Acontecia, pois, que de volta das mobilizações ou das guerras, o colono muita vez não atinava mais com o próprio sítio em que tivera as suas plantações, tão forte ressumava da terra a vegetação primitiva e rebentavam dos troncos os brotos que, por encanto, se faziam basta ramaria. Na expectativa de novos chamados, ou de novas invasões, descoroçoado com o espetáculo que se lhe deparava ao regressar, resolvia buscar um outro meio de subsistência.
Daí a grita que se levantou sempre na colônia pela falta de braços, o que levou o governo, mais tarde, a proibir que se fizessem licitações ou apreensão judiciária de escravos, nas fazendas e nos engenhos, por dívida dos proprietários, salvo no conjunto de toda a propriedade, isto porque aquela retirada dos braços encaminhava para o aniquilamento a lavoura da cana e do fumo.(31) Nota do Autor