Visitantes do Brasil colonial (séculos XVI-XVIII)

Acérrimos inimigos de qualquer trabalho preferiam viver miseravelmente a economizar à custa do sacrifício da indesculpável inércia.

Mostravam-se aliás muito sóbrios. E embora a terra lhes pudesse fornecer as mais deliciosas carnes, tinham sempre a mesa malservida e as refeições compostas de pratos maltemperados.

O seu modo de comercial vinha a ser o dos vadios inveterados. Provia o clima abundantemente aos carregamentos das frotas que para Lisboa zarpavam.

Tais carregamentos consistiam em ouro, provindo de riquíssimas minas, trabalhadas por escravos, pedras preciosas como os diamantes, topázios e ametistas e diversas drogas medicinais, sobretudo ipecacuanha.

Mas o que constitui legítima revelação, e da maior importância, na história do comércio brasileiro, vêm a ser os tópicos pelos quais o Sr. De La Flotte nos relata o despacho, para Lisboa, de grandes carregamentos de laranjas, "frutas que no Rio cresciam sem cultura e sem o mínimo cuidado".

Partiam os clássicos pomos das Hespéridas naturalmente sem frigorífico algum, e para uma viagem de no mínimo três meses! E tinham quem as apreciasse do outro lado do tanque atlântico, tão frescas e deliciosas chegavam à costa portuguesa!

Pena que o nosso viajante não se haja interessado em nos revelar o segredo desse prodigioso processo de conserva que nos porões das naus zombava dos calores equatoriais das calmarias podres!

Visitantes do Brasil colonial (séculos XVI-XVIII)  - Página 100 - Thumb Visualização
Formato
Texto