"Fiéis e respeitosos a toda autoridade constituída, diz João Cruz Costa, segundo a doutrina traçada pelo Mestre, os positivistas [entenda-se, do Apostolado] muito pouco fizeram pelo advento da República democrática, julgada por eles uma triste imitação do empirismo francês"(408) Nota do Autor. "Estávamos alheios a tudo quanto se tramava, confessaria mais tarde Teixeira Mendes, quando já se tinha como imprescindível o concurso militar para a implantação da República; não aconselhamos nem aconselharíamos a revolta, porque seria infringir os preceitos do nosso Mestre". A mesma coisa, diria ele, aludindo ao Golpe de Estado do Marechal Deodoro: "Rimos alheios ao levante; não o aconselhamos nem o aconselharíamos se houvéssemos sido previamente consultados". E com uma sinceridade e uma isenção de ânimo dignas de todo elogio, acrescentaria:
"Depois do fato consumado, muitos têm julgado que a nossa conduta devia ter sido outra, isto é, que nos cumpria ter opinado pelo que se fez. Nenhuma apreciação, porém, pode ser mais superficial. Com efeito, por mais crítica que fosse a situação do Império, estava garantida a plena liberdade de opinião; e a liberdade de associação só era violada nas assembleias políticas com tendências mais ou menos subversivas. Apesar do seu caráter reacionário, o Ministério ia ser forçado a dar-nos a liberdade do culto público, o casamento civil e a secularização dos cemitérios. O conjunto dessas medidas patentearia o esgotamento político e moral da igreja oficial e faria surgir o problema da separação do Estado. Por outro lado, a liberdade do ensino não tardaria a impor a extinção dos privilégios acadêmicos, de fato eliminado pelos costumes populares. Quanto à descentralização administrativa, era ela inadiável. A agitação republicana e a indisciplina incorrigível da força pública, dados os manejos da política imperial, manteriam o governo do ex-Monarca em contínuo sobressalto, e o forçariam a proclamar a República, servindo-se talvez desse mesmo Parlamento que fora eleito para esmagá-la.