medieval e a superstição persistiu em muitos espíritos dos primeiros tempos modernos. Matias Aires, com a sua mentalidade formada no ambiente cultural da França de meados do século XVIII, não podia atribuir qualquer valor às fórmulas secretas que para ele não passavam de infantilidade e enredo de palavras sem sentido. As experiências já objetivas sobre metais e as indicações sobre as suas propriedades enchem grande número de páginas do Problema de Arquitetura Civil o que se deve atribuir tanto aos seus estudos e preocupações intelectuais como ao exercício de suas funções de provedor da Casa da Moeda de Lisboa que devia servir de laboratório às suas experiências científicas. E, sem muito esforço, podemos acompanhá-lo em seus trabalhos profissionais orientando os ensaiadores, fundidores e pesquisando ele próprio as propriedades do ouro, da prata, do mercúrio, do antimônio e mais metais.
A ação da água forte e da água régia sobre os metais nobres, bem como os processos de preparação dos dois solventes, são descritos de maneira segura e particular em mais de um lugar do Problema de Arquitetura Civil e a fusão do ouro e do antimônio, experiência por ele realizada, é objeto de outra longa exposição (I, ps. 49/52).
A docimasia, que denomina Docimástica, arte de ensaiar o ouro, isto é, de "conhecer os quilates que o ouro tem e conhecer também os dinheiros que tem a prata" (Problema, I, ps. 129/33) é, por sua vez, assunto para algumas de suas melhores observações.
Em muitos pontos, estão intimamente confundidos o provedor da Casa da Moeda de Lisboa e o aluno de Grosse nas ciências experimentais e principalmente na descrição dos processos utilizados para afinar o ouro (Problema, II, ps. 122/25) que são examinados à vista dos ensaios que assistia ou dirigia e das informações transmitidas pelos oficiais fundidores e por ele verificadas, inclusive quanto ao aspecto quantitativo.
De tempo em tempo, volta Matias Aires ao que mais o interessava no estudo das ciências naturais que é a procura da verdade fundada na experimentação. Esta é a linha do seu pensamento, como ele próprio declara no trecho seguinte: "tudo o que concluímos, fundados, em experimentos certos, invariáveis e constantes, tem o caráter de verdade física".
O conhecimento da vida de Matias Aires, fundado nos escassos dados que nos foram transmitidos por Barbosa Machado e um ou outro aditamento de reduzidas dimensões, apresentava