PREFÁCIO
No Catálogo dos Livros que deviam ser lidos para os trabalhos de continuação do Dicionário da Língua Portuguesa, organizado pela Academia Real de Ciências de Lisboa, figura o nome de Matias Aires Ramos da Silva de Eça, natural da capitania de São Paulo e autor das Reflexões sobre a Vaidade aos Homens, quatro vezes impressas no século XVIII e do Problema de Arquitetura Civil, publicado posteriormente ao seu falecimento, por iniciativa de Inácio Ramos da Silva de Eça.
A inclusão do escritor nascido na colônia, na lista das autoridades a serem consultadas para a seleção de vocábulos, naquela primeira tentativa de dicionarização da língua, orientada em rumos de relativa segurança, de origem portuguesa, constitui um ponto de reparo para julgar da pureza dos escritos do autor que formara o seu espírito em Coimbra e na França.
Do Dicionário foi publicado apenas o primeiro tomo, com os vocábulos da letra A e não teve seguimento. Na sua redação trabalhou, principalmente, o douto professor Pedro José da Fonseca, lexicógrafo de mérito e autor dos dicionários latino-português e português-latino que atravessaram todo o século XIX e ainda eram consultados pelos alunos de latim, em Portugal e no Brasil, até data relativamente recente. Para o,primeiro tomo que ficou logo sem utilidade por sua limitação e foi motivo de críticas mordazes, mas até certo ponto improcedentes de quase todos os espíritos da época, a vigilância dos redatores, quanto à limpidez da linguagem e à autoridade das abonações, foi levada ao extremo e admitidos quase exclusivamente os vocábulos utilizados nos melhores escritos, anteriores a 1626, data da publicação da primeira parte da História de São Domingos, de Frei Luís de Souza.
Acontecia, entretanto, como acentuou Camilo Castelo Branco, que os escritores do século XVII enriqueceram mais a língua portuguesa, em palavras de uso vulgar, que os do século XVI.