prazeres proporcionados pelos ducados brilhantes ou pelos dobrões tintilantes, não emigravam.
Só saíam da Europa os dom Quixotes e só recusavam ao expatriamento longínquo e arestoso os Sancho Panças. De fato, só os que alimentavam ideais que não cabiam dentro das fronteiras da Ibéria, muito embora as terras do imperador Carlos V não verem nunca o ocaso do sol, tal era a sua grandeza, procuravam na emigração satisfazer os seus ímpetos ardorosos que afrontavam as dificuldades de mil aventuras ignotas em um continente desconhecido.
Os que não se empenachavam com esses objetivos altissonantes ficavam nos reinos peninsulares na vida pacífica que a fortuna fácil de um Dom João III de Portugal, ou um incontrastável poderio bélico de um Felippe II proporcionavam.
Nessa época a Ibéria era, no cenário da política internacional europeia, o que o tigre é nos juncais da Índia. Ninguém ousava lhe contestar a supremacia. Os "tércios" espanhóis passeavam invictos pela Europa, ainda a levar nos seus arcabuzes e nas suas alabardas as flâmulas vitoriosas que Carlos V, com seus mil capitães fizera tremular por sobre os muros de Pavia, de Santo Angelo, ou por sobre as planuras de Saint Quentin. O espírito do tratado de Madrid ainda planava soberano sobre a Europa, que tremendo de terror, sonhava ainda com os vultos soturnos e majestáticos de Gonçalo de Córdova o grande capitão do Condestável de Bourbon, de Antonio de Leyva, do jovem Juan de Áustria, ou de Antonio de Aulnois a esgrimir os seus espadagões, envolvidos nas suas pardas lorigas ou acobertados de aço tauxiado de Toledo a manobrar os seus murzelos cordoveses,