Feijó e a primeira metade do século XIX

ensombreados pelas luzes volteantes do candeeiro, que coriscava seus reflexos nas faces álgidas e piedosas dos circunstantes.

À cabeceira, sua irmã Maria Justina de Camargo, relativamente nova ainda, pois que era cerca de onze anos mais moça que o irmão, com um olhar triste e meigo, mas conformado e espelhante de toda a sua dor concentrada, envolvia aquele ambiente todo saturado de respeito e de ansiedade. Ela falava em surdina a um religioso já velho, metido no seu burel negro de estamenha, alto, mas recurvo, ainda com a imponência de seu aspecto venerável, que lhe emprestava as suas barbas embranquecidas pela idade e pelo pensar, ao redor do seu rosto anguloso e amorenado.

Era o Dr. Miguel Archanjo Ribeiro de Camargo. Aparentado e muito amigo de Feijó, quisera segui-lo até o doloroso fim, que o sorvia naquela noite de trespasse.

Ao seu lado, acompanhando com curiosidade o murmúrio dolente daquele imperceptível vozerio, estava um velho gordo, com as faces empastadas, a se emoldurar luzidiamente na barba rala e uns olhos bondosos e lacrimejantes. Era Joaquim José dos Santos Camargo, o verdadeiro irmão mais velho de Feijó, o seu melhor amigo e primo.

Prometa-me, primo, diz por fim com voz debilíssima Feijó, que fará alguma coisa por minha irmã, essa santa, que qual Veronica me deu algum lenitivo na vida. Sei que vou morrer, e desta pobreza a que me legou um destino implacável me arrancará dentro em breve a bondade do Todo Poderoso. Que seja feita a sua sacratíssima vontade. Não quero morrer, porém, sem levar a esperança

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