Calógeras

Do grande cisma grego, já lhe escrevi uma vez o que me afastou dele: os impulsos e apetites políticos e meramente pessoais de Fotius e Miguel Cerulário.

Mas mil vezes pior, moral e intelectualmente, é a progênie da Reforma. Nem consigo apreender como se possa defendê-la, no seu nascimento e no seu evolver, quer do ponto de vista da história, quer dogmaticamente ou socialmente. Sempre tive essa opinião, e o livro que lhe vou devolver a fortalece de modo inabalável. Poderia eu ser tudo, menos protestante. E note o Amigo (trahet sua quemque voluptas), o princípio intimamente dissolvente proclamado por Lutero lhe vai aniquilando a própria obra. Hoje as inúmeras denominações nada mais traduzem do que o esfacelo da primeira voz de rebeldia, a desfechar na opinião individual do intérprete, na qual, por não haver logicamente dois seres idênticos, senão apenas semelhantes, desaparece a religião, social e dogmaticamente, por não haver dois fiéis a religar.

Curiosa Nêmesis histórica e religiosa! Para triunfar, no domínio do senso comum, da imoralidade fundamental da predestinação e da

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